segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Super Remix (compilação - vários)

Capa

Hoje publicamos a resenha mais difícil e mais polêmica de todas as resenhas já postadas pelo blog. Estamos falando de uma coletânea que estava aguardando a divulgação na lista de espera (ficou rolando na redação de um lado para outro há dez anos)  e não possui consenso crítico entre nossa equipe. Trata-se dos remixes apresentados pela coletânea Super remix, que foi lançada em 1996, pela gravadora Som Livre.

(Entenda os motivos)

Para início de conversa, o Brasil parece estar condenado a viver uma vida cercada pelo o dilema do “karma da tentativa”.

- Karma da tentativa??? O que é isso?

Karma da tentativa é o nome que nós inventamos para designar um fato curioso que acontece  no Brasil, diante qualquer tipo trabalho em meio a uma lista infinita de desculpas que vai desde a falta de dinheiro, falta de conhecimento, falta de habilidade, falta de visão holística, falta de qualificação, falta de apoio, falta de talento, falta de senso crítico....etc. Ou seja, na maioria das vezes, tudo aquilo que o brasileiro faz e não dá certo, geralmente é enquadrado na lista de justificativas que você acabou de ler. Logo, o resultado parece estar condicionado à frase: 

- Valeu pela intenção!”

Com sol ou com chuva, subindo ou descendo, direita ou esquerda, ganhando ou perdendo, quase tudo acaba se resumindo na frase “valeu pela tentativa”!

Vamos imaginar que você tenha que cozinhar feijão. Então você vai fazer a feijoada completa como manda a receita, sem ficar discutindo a + b. Entretanto, por vários motivos aleatórios você acaba fazendo a feijoada com água, sal e feijão. Ponto. O que vai acontecer com o almoço do dia?  A feijoada vai ficar ruim, insonsa, fora da realidade, simplória, etc.. e para os convidados não detonarem as suas habilidades culinárias desastrosas, eles irão dizer que valeu pela tentativa. Captou?

O resultado dos remixes apresentados pela compilação “Super remix” possui várias interpretações. Nas resenhas discutidas em reuniões da equipe do blog ao longo dos anos, mas que acabaram não sendo publicadas, para não causar desanimo ou discórdia no seguimento musical dançante brasileiro, apareceu de tudo:

* Que a proposta de remixes da coletânea representava um retrocesso.

* Que o cd deveria ser banido da dance-music brasileira.

* Que a compilação fosse enterrada para sempre da história musical de remixes nacionais.

* Que a coletânea fosse queimada em praça pública.

* Que a associação de Djs proibisse a execução dos remixes para não ofender o bom gosto e o desenvolvimento musical dançante brasileiro já existente...

* Que a compilação foi feita para um público que desconhece dance music e se contenta com migalhas.  Etc...etc....

Um outro detalhe muito importante na formatação e produção  geral dos remixes brasileiros lançados por grandes artistas, é que mesmo que o centro das atenções musicais no Brasil seja São Paulo e Rio de Janeiro, tanto paulistas como cariocas deveriam ter percebido que, apesar de tudo, o Brasil não gira em torno do “gosto musical particular de paulistas e cariocas! ”. Ou seja, o Brasil não consome/consumia dance music em geral, apenas porque os cariocas e paulistas gostavam ou produziam. O Brasil também possuía luz própria e – dadas às proporções - também tinha desenvolvido o seu conhecimento e gosto musical pessoal, que NÃO seguia “obrigatoriamente” a mesma ordem musical ditada por cariocas e paulistas. (LONGA PAUSA PARA PENSAR...)

Pensando e refletindo......

Em alguns estados do interior do Brasil, já existia uma ligação muito forte com o que ocorria musicalmente na Europa, independente do que o Brasil da bolha carioca/paulista pensava/gostava ou deixava de pensar/gostar.....

Aliás, em termos de dance music, todo o brasileiro que tivesse interesse e tinha acesso ao dance americano, dance europeu, dance brasileiro e dance latino, já estavam familiarizados com remixes dançantes de primeira linha.

Quem produziu o Cd Super Remix, sabe-se lá por quais motivos, ignorou a visão e a euforia dançante mundial que já existia naquele momento. Isto é, os remixes apresentados na coletânea permaneceram presos ao conhecimento limitado de seus produtores, como também,  no interesse pífio e questionável de quem encomendou os remixes. Por fim, era previsto que uma parte público confuso e inocente, que aceitava tudo quanto era “tum-tis-tum” de quinta categoria, aceitasse as migalhas dançantes.

De forma prática, no entendimento da equipe do blog, os remixes ficaram condicionados a cena dance “lado B” carioca e apresentam o básico feijão com arroz e farofa.

Contracapa

(Análise....)

Se o padrão musical dançante brasileiro (a linha de remixes produzidos) já havia sido definido na década de 90, por remixes de artistas como Lulu Santos, kid Abelha, Rita Lee, Marina Lima entre outros; era evidente que o resultado final da compilação lançada em 1996 não poderia ter qualidade inferior aos discos acima referidos. Portanto, os remixes apresentados nessa coletânea não caíram nas graças da maior parte do público. Óbvio! Ponto final.

Por isso que insistimos em dizer que: - Acabou o tempo do Brasil ser amador ou viver numa eterna tentativa musical...

Entendemos que muitas vezes é legal ou libertador fazer um remix diferente, porém desde que “esse remix diferente” seja melhor ou igual aos remixes já estabelecidos no mercado e aprovados pelo público.

Entendeu agora por que no início dessa resenha citamos que o Brasil vive o “karma da tentativa? A equipe do blog adoraria dizer que a compilação é o máximo e possui o mesmo nível de qualidade, etc e tal. Mas, para não ofender as pessoas envolvidas, infelizmente muitas resenhas se resumem em “valeu pela tentativa”.

O pior é imaginar que entre as justificativas dos produtores dessa compilação, é que eles poderão dizer que os remixes não tinham essa pretensão “fantástica” de sucesso, e que era só para fazer a meia boca que foi feita. Enfim....

A compilação de remixes possui características musicais do funk melody, da música pop e uma tentativa esfarrapada do que poderíamos chamar de Euro House tupiniquim  de doer na alma, no corpo e nos pés.

O CD possui as seguintes faixas:

1 - Cazuza - Exagerado (Dance Mix)

2 - Sandra De Sá - Olhos Coloridos (Charm Version) 

3 - Fábio Jr. - Enrosca (Nino's Piano Mix)      

4 – Agepê - Deixa Eu Te Amar (Love Melody Mix)      

5 - Fafá De Belém - Sereia (Dance Version)    

6 - A Turma Do Balão Mágico - Lindo Balão Azul (Euro Remix)         

7 - Wanderléia - O Exército Do Surf (L'esercito Del Surf) (Ragga Dance Mix) 

8 - Barão Vermelho - Bete Balanço (Club Station Remix)       

9 - Anne Duá - Indecente (1996 Remix)           

10 - Barão Vermelho - Bete Balanço (Club Station Long Remix)        

* Não há registro sobre a compilação ter sido editada em vinil.

** A culpa não é dos artistas, mas de quem produziu os remixes ruins...

sábado, 14 de dezembro de 2019

Fat Family - Gulosa remix (Single promocional)


CD promo sem encarte

A canção Gulosa, do Fat Family, foi uma das primeiras melodias na discografia do grupo que foram lançadas em single promocional. A música original faz parte do álbum Fat Family, que foi o trabalho de estreia dos irmãos Sidney, Celinho, Celinha, Simone, Suzetti, Kátia e Deise Cipriano, lançado em 1998, pela gravadora EMI.

Aliás, a canção foi divulgada em dois singles promocionais. O primeiro single contém apenas a versão original igual ao álbum. O segundo, que o Brasilremixes apresenta com exclusividade, contém três versões. (versão original, versão remix extendido Hitmakers R&B extended mix e versão remix editado Hitmakers R&B radio edit).

A versão remix – tanto editada quanto extensa – não apresenta novidades dançantes, mas possui um contexto melódico voltado para o R&B (Rhythm and blues) e foi produzida pelo pessoal do Hitmakers. Ótima para ser tocada em programas de rádio, mas longe das pistas, infelizmente. A versão original é pop e também não possui nada de dançante para os clubes. 

A canção também faz parte da trilha sonora da novela Andando nas Nuvens que foi produzida pela Rede Globo de TV, em 1999.

* Não há registro que o single promocional tenha sido lançado no formato de vinil 12”.

* Agradecimento especial ao Dj Werick Cannelas por ter auxiliado a equipe do blog, na localização deste single. 

domingo, 27 de outubro de 2019

Dulce Quental - Viver remix (Single promocional - Item de colecionador)

Capa

Após um longo período de férias, gradativamente, a equipe do Brasilremixes está voltando a fazer postagens no blog. Não estamos em outras plataformas digitais, porque não gostamos de ficar pulando de galho em galho em cada nova ferramenta digital diferente que aparece no mercado. (Orkut-Myspace-Facebook-Pinterest-Instagram-Wordpress-Tumblr-VK-boitatá-saravá-etc......).
Por enquanto, estamos satisfeitos com o modelo de plataforma disponibilizado pelo sistema Blogger.
Dulce Quental nos anos 80

Na postagem de hoje, ressuscitamos o remix da canção “Viver”, da cantora Dulce Quental. O single remix foi distribuído de forma promocional lá em 1987, pela gravadora EMI. Demoramos em fazer essa postagem devido ao egoísmo de algumas emissoras de rádio e muitos djs que possuem o disco escondido  em seus arquivos desorganizados e abandonados. E,  além de não desejarem que as pessoas saibam disso, também evitam o compartilhamento de informações a respeito do produto. Enfim....Se a equipe do Brasilremixes dissesse que é mais fácil conseguir remixes de artistas brasileiros editados na Europa ou Estados Unidos do que em seu próprio país de origem, isso iria deixar a galera de cabelo em pé! É difícil competir com a preguiça social, mas nossa equipe se esforça. Continuando....
Contracapa

A cantora Dulce Quental é carioca, foi vocalista do grupo Sempre Livre (banda pop/rock de sucesso nos anos 80, que era formado por garotas). Em 1985, Dulce se lançou em carreira solo para divulgar seu primeiro disco chamado Délica. Na sequência, em 1987/1988 apresentou um novo álbum, Voz Azul* que foi produzido por Herbet Vianna (vocalista da banda Paralamas do Sucesso).

* Desse álbum, surgiu o single 12” remix da canção “Viver”, que foi produzido/editado pelo dj Irai Campos e pelo produtor Tuta Aquino, com participação especial da dupla de produtores que formavam o coletivo do Latin Rascals. Para quem não sabe, Latin Rascals (leia-se Albert Cabrera e Toni Moran) realizou a montagem/edição e mixagem de várias canções de artistas internacionais que faziam sucesso naquele tempo como, Duran Duran, Grace Jones, Level 42, Debbie Gibson, Madonna entre outros. Ou seja, Latin Rascals tinha uma participação importante no sucesso de vários artistas gringos. Logo, subentende-se que a cantora Dulce Quental estava bem assessorada no sentido musical técnico. (favor não confundir “sentido musical técnico” com “música Techno”. São coisas diferentes!)

Porém, a canção Viver não caiu nas graças do público e não agitou as pistas de dança, infelizmente. Essa situação faz parte do trabalho do artista, e ter ou não a participação de um bom produtor/editor musical não garante nada pra ninguém.

* É difícil mensurar qual foi de fato, “a real participação” do Latin Rascals na produção da canção “viver” da cantora Dulce Quental. Inclusive com destaque impresso na contracapa do vinil. Porém, passados 32 anos que é o tempo que separa o lançamento do remix (1987) com a postagem de hoje (2019), não sabemos, na prática, o que teria sido e qual realmente seria o significado dessa “participação especial” mal explicada.  Enfim, isso cheira a muita constelação para pouco resultado. É que nem aquele cantor internacional que fez sucesso com aquela música, e anos depois ao ser entrevistado, revelou que o “tal produtor/editor/remixer” nada mais fez do que ficar tomando cafezinho no estúdio, e que a versão de sucesso foi toda produzida pelo dj desconhecido, mas por uma questão de marketing foi dado crédito ao produtor para fazer média e causar impacto na cena artística.

Não estamos insinuando e nem afirmando nada, mas conhecemos o meio musical o suficiente para digamos, deixa assim, deixa pra lá. Quando você ouve o resultado final da versão dub da canção Viver, você percebe que não há nada demais e que qualquer dj brasileiro na época poderia ter feito. Enfim, vale pelo registro e não adianta esperar por novidades, pois a canção já faz parte do passado e ponto.

O single vinil possui as seguintes versões:

LADO A
1- Viver (Rádio Version) 4’25
2- Viver (Club Vocal Version) 6’45

LADO B
1- Viver (Garage Dub Version) 5’55
2 - Viver (A Capella) 4’03

Não há registro que o remix tenha sido editado em Cd ou em alguma plataforma digital, por enquanto. Agradecimento especial ao Dj Black por ter fornecido as imagens que ilustram a postagem de hoje.  

Pausa para pensar........

O que tem de gente com 40, 50 anos nas costas e acha que seus discos são como “As virgens imaculadas da eternidade!” Mal sabem que quanto mais velho o disco fica, mais distante e mais desinteressante ficará o trabalho musical frente a nova geração que não está nem aí para o que se passou no passado.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Paralamas do Sucesso - Ska remix (Single promocional - Item de colecionador)

Os Paralamas do Sucesso em 1984 / Reprodução

Em virtude da confusão de interpretação de leitura de alguns brasileiros que ainda não sabem a diferença entre streaming (plataforma para ouvir arquivos de áudio ou vídeo) e downloading (link para baixar arquivos de áudio ou vídeo sem autorização), estamos repostando a resenha do single da canção “Ska”, da banda Os Paralamas de Sucesso.

Recentemente, o blog foi alvo de denúncia de pirataria, pela interpretação equivocada de estar divulgando a canção em downloading.

Na verdade, para quem ainda não percebeu, o Brasilremixes possui o layout da página igual ao layout dos blogs de compartilhamento de músicas piratas. Talvez por esse motivo, o blog tenha sido alvo de denúncia. Quando na verdade, no lugar do downloading estava um link de streaming direcionado ao Youtube para que os leitores do blog pudessem ouvir as canções. Só isso! 

A estrutura do blog é séria, mas a equipe optou por fazer uma brincadeira. É como se vestir de diabo sem ser o diabo. Ou como se vestir de pastor sem ser pastor de igreja. Mas pelo visto, houve leitores que não entenderam. Enfim, refazendo a postagem, segue a resenha originalmente divulgada em em 2012.

O blog Brasilremixes  mostra o que a maioria dos artistas e suas gravadoras não informam aos fãs e ao público consumidor. Para confirmar essa constatação, basta dar uma olhada na qualidade dos sites dos artistas brasileiros em geral. A valorização e preocupação com o trabalho o artístico é tão superficial, que muitos cantores/bandas não possuem uma página na internet, ou o endereço está abandonado, ou muitos daqueles que possuem as informações, apresentam conteúdo simplório. (sic)

Hoje relembramos o single promocional da música “Ska” da banda carioca Os Paralamas do Sucesso. Este single se transformou num item de colecionador,  pois foi editado em vinil 12” na cor amarela e distribuído para algumas emissoras de rádio, pela gravadora EMI Odeon, em 1984. Tanto na época de lançamento quanto nos anos posteriores, a música fez sucesso e quase sempre tocava no play list nacional de muitas festas e casas noturnas espalhadas pelo país. Este single traz a canção “Ska” na versão original e na versão longa (long version).

Origens 

É importante saber que na concepção inicial do formato de remix, a versão da melodia com maior duração da versão original, era muitas vezes chamada de remix. Na verdade, diversos remixes de músicas brasileiras produzidos na década de 80 nada mais eram do que versões mais longas da melodia original. Atualmente a conotação dançante para o remix é outra, mas a maior parte do público brasileiro precisou de um tempo para assimilar esse entendimento. Afinal, não foram os brasileiros que inventaram a proposta do remix. Os artistas apenas seguem uma brincadeira importada de outras civilizações.  

Pesquisadores informam que o conceito de remixagem musical surgiu na década de setenta. Naquele período, a estética do remix foi impulsionada pelos hits da Disco-music americana, onde alguns DJs que agitavam a galera nas discotecas não gostavam de repetir a mesma música várias vezes durante a festa. Para resolver essa situação, Djs e produtores começaram a editar alguns singles promocionais com as músicas de maior sucesso. As canções eram transformadas em versões mais elaboradas e com um tempo de duração maior. A melodia original que tocava nas rádios possuía um formato reduzido de dois a três minutos de duração. As versões “ditas remixadas e dançantes", eram mais longas e possuíam de cinco a dez minutos de duração, para que a galera pudesse curtir e dançar a melodia por mais tempo. A solução evitava que os DJs tivessem que repetir a mesma canção durante a festa.

 O single apresenta as seguintes versões: 

LADO A 
1- SKA - versão original 2´30

LADO B

1- SKA - versão longa 3'59


* Na época de lançamento desta canção, um dos destaques foi a ótima performance do baterista João Barone.

** A versão apresentada no lado B do disco também é popularmente conhecida como versão remix.

*** Com sorte é possível comprar este single em sebos, lojas de discos usados, com DJs aposentados, colecionadores ou talvez entrando em contato com alguma emissora de rádio no Brasil que encerrou suas atividades.

****Agradecimento especial ao DJ Carlos Pereira por ter fornecido as imagens para ilustrar a postagem.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

RPM - A cruz e a espada remix (single promocional - Item de colecionador)

Detalhe do single 

Atenção! Existem informações incompletas e desencontradas em vários sites do Google, a respeito da música "A cruz e a espada". Por isso, A equipe do blog fez uma pesquisa minuciosa e constatou que essa canção possui alguns detalhes interessantes.

- Em 1985, a versão original foi lançada pela gravadora CBS (atual SONY) no álbum Revoluções por minuto, da banda RPM.

- Também em 1985, a versão original foi incluída no “lado B” do single promocional, junto com o remix da canção “Olhar 43”, que na época era outro sucesso da banda RPM.

- Em 1986, a música “A cruz e a espada” ganhou remix próprio e foi lançada em single promo individual.

- Ainda em 1986, foi distribuído outro single promocional, apresentando as canções “A cruz e espada e “Olhar 43”, gravadas ao vivo. As versões são iguais ao álbum ao vivo da banda, que também foi lançado naquele ano.
RPM em 1986 / imagem reprodução

Como já mencionamos, a versão remix foi distribuída de forma promocional em 1986, mas apenas em 2008 foi incluída oficialmente no CD “Remixes e Raridades” que acompanha o box comemorativo RPM 25 anos. É importante saber que infelizmente, nem todos os remixes de vários artistas brasileiros foram oficialmente lançados. Muitos ainda permanecem enclausurados no tempo, como faixas promocionais.

“A Cruz e espada” é uma canção juvenil com sotaque New-Bossa* e tonalidade harmônica épica. Após o lançamento do disco de estreia da banda, a canção A cruz e a espada se tornou uma das musicas românticas brasileiras mais executadas pelas rádios em sua programação. Aliás, a letra da canção não possui nada de romântico. Ou seja, a faixa apresenta uma melodia contemplativa que ganhou contornos românticos numa época em que para parte do Brasil confuso, música pop calma, era sinônimo de música romântica.

A versão remix não transformou a canção num hit dançante para os clubes. Pelo contrário, Luiz Schiavon (tecladista da banda) e Luiz Carlos Maluly (produtor), preservaram a linha melódica tranquila e deram apenas uma sofisticada de leve, ao utilizar solos de clarineta** sobrepostos ao longo da canção.

O single registra apenas um remix em ambos os lados.
Detalhe do single

* New-bossa era forma com que algumas pessoas chamavam a Bossa Nova, lá nos anos 80. Atualmente é chamada de “Nu bossa”. “Nu” é o modo reduzido de “Neu”, que significa “novo”, e também possui o mesmo entendimento que “New”. A mesma linha de raciocínio serve também para as palavras “REMIX” e “RE-MIX” que significa a mesma coisa. Muda-se apenas a forma de escrever.

** Na versão remix, a clarineta foi tocada por Roberto Sion e o violão por conta de Luiz Carlos Maluly. Alertamos os internautas para não confundir o som produzido pela clarineta / clarinete, com o som produzido pelo saxofone.

domingo, 7 de outubro de 2018

Fernanda Abreu - Sla Radical Dance Disco Club (álbum)

Capa

I Parte (Situando os leitores)

Falar do disco de estreia da cantora Fernanda Abreu é fácil. Complicado é fazer com que as novas gerações juntem as peças do quebra-cabeça da cena musical brasileira, na época em que o álbum foi lançado.

Estávamos no início da década de noventa. Parte do público que tinha dinheiro e interesse para usufruir um pouco da diversão musical disponibilizada pelos nightclubs e danceterias brasileiras, ou até mesmo aquelas pessoas que tinham contato com a moda musical  mundial, se esbaldavam nos clubes ao som de:
Madonna – Vogue
Technotronic – This beat is tecnotronic e Pump up the jam
Mc Hammer – U Can't Touch This
49-ears – Touch me
Snap – The power
Black box – Everybody Everybody
Deee Lite - Groove Is In The Heart
C+C Music Factory - Gonna Make You Sweat (Everybody Dance Now), entre outras músicas de vários cantores(as) americanos e europeus.

Mas cadê os artistas dançantes brasileiros?

Pois é, não somente a classe musical, como grande parte da população no país, nem sabia o que era Dance Music, House, Techno e os mais diversos estilos musicais eletronicamente formatados, que agitavam as pistas de dança de respeito, naquela época! Na prática, Dance Music para a intelectualidade brasileira, era coisa de gente estranha que frequentava lugares doidos e ambientes mal iluminados, que eram vistos muitas vezes, como politicamente incorretos. Vale lembrar que nesse período, a Disco Music já era uma referência do passado. Portanto, a nova ordem musical dançante se chamava  “Dance Music”.

Uma outra questão pertinente ao assunto, se refere ao fato da posição geográfica do Brasil estar no meio do caminho. (???? como assim????) Basta olhar no mapa, para verificar que dadas as proporções, (Estados Unidos-Brasil-Europa), o Brasil se encontra no meio do caminho, fazendo uma espécie de "ponte musical" entre os continentes.
Portanto, com exceção de meia-dúzia de remixes perdidos entre alguns artistas brasileiros, o Brasil não produzia nada dançante para os clubes dentro do conceito eletrônico da mesma forma como já era amplamente trabalhado nos hits musicais internacionais.
Então, para suprir essa falta de música brasileira dançante, aproveitávamos (e continuamos aproveitando) todas as musicas dançantes e os sucessos disponibilizados pelos artistas gringos, tanto da escola melódica americana como da escola musical européia. Ou seja, cantando ou não cantando em português, a festa nos clubes acontecia normalmente. E graças ao trabalho de inúmeros djs, naquele momento já existia uma cena dançante forte nos clubes, nas danceterias, nas festas e em alguns programas de rádio pelo Brasil; os quais,  eram agitados por canções internacionais produzidas e formatadas dentro de uma estética musical dançante, para proporcionar muita diversão.
Fernanda Abreu (ao centro) época da banda Blitz /imagem reprodução

Herança conformista e escravidão musical no meio artístico nos anos 80

Descartando regionalismos, folclore e desejos musicais ideológicos que satisfaziam outro tipo de público; é importante observar que enquanto a cena jovem brasileira era doutrinada pela cartilha musical do rock, o público adulto era dominado pela MPB. Entre os fatores que justificam esse entendimento, podemos citar a chantagem mercadológica institucionalizada do “fazer música para vender dentro de uma proposta óbvia”. Isto é, ou os artistas seguiam essa regra do jogo musical ou os artistas eram boicotados. Tanto pelos consumidores doutrinados, quanto pelas gravadoras que só queriam lucrar pelo pastelão musical enfadonho e repetitivo. E olha, que nem vamos citar toda a publicidade - direta e indireta - que era jogada na cara da população através de filmes, seriados, novelas, jornais e revistas de todo o tipo, que atuavam em favor do Rock e da MPB. 

Nessa análise, também existe a seguinte constatação:

De um lado havia o público de conhecimento raso e tradicional, que se deixou domesticar por um estilo musical único. E, do outro, como as gravadoras/mercado perceberam as limitações do público brasileiro - então para sobreviver num mundo capitalizado, se aproveitaram da situação e não aceitavam ou não investiam em outros seguimentos musicais, para não ficarem no prejuízo. Portanto, se o público doutrinado queria sangue, as gravadoras vendiam sangue. Se o público doutrinado queria chuchu, as gravadoras vendiam chuchu, justificavam os defensores do mercado. Esse entendimento, inclusive, é regra nos cursos universitários de administração de empresas. Ou seja, a lucratividade é fundamental para manter um produto no mercado. Se não der vantagem financeira, tchau, tchau baby!

Independente de ser bom ou ruim, pra quem gostava de rock ou MPB era um excelente negócio. Afinal, quanto mais rock e MPB, melhor seria para garantir a lucratividade, fidelizar (escravizar) o público e satisfazer o ego de algumas pessoas, em detrimento de todos os outros estilos musicais. Aliás, esse entendimento também é válido para todos os tipos de música.

A equipe do blog lembra que moda é uma coisa bem diferente de doutrina, e um exemplo clássico para ter um pouco de noção a respeito disso, é assistir ao filme sobre a vida do cantor CAZUZA. Em uma das cenas do longa-metragem, o cantor quebra o quadro com o disco de ouro, que recebeu pelas vendas do seu álbum, dizendo: “...100 mil pessoas ouvindo a mesma coisa...”

Vale registrar que a cena musical brasileira nos anos 80 era exuberante, mas desde que fosse dentro da escola do rock ou da MPB. Até poderíamos escrever um livro a respeito dessa situação, mas indo direto ao que interessa, agora vamos voltar aos anos 90 e falar sobre o disco de Fernanda Abreu.
Encarte 1
Encarte 2
Encarte 3
Encarte 4
Fernanda Abreu em 1990 / imagem reprodução

Parte II - Seja bem-vindo anos 90!

Apesar das limitações técnicas desse trabalho, a equipe do Brasilremixes é fã desse álbum, e sabe que se trata de um dos discos dos anos noventa, mais esperados pelos leitores do blog.

Sla Radical Dance Disco Club possui uma atmosfera levemente underground e descolada dos padrões musicais doutrinários, que se perpetuavam no país. O álbum foi lançado em 1990 pela cantora Fernanda Abreu (Ex-banda Blitz), sendo  produzido por Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso) e Fabio Fonseca, com direção de Jorge Davidson.

“A tarde cai
A noite vem atropelando
Todos os chatos desanimados
Tá na hora de acordar e sair
E ver que a vida é se divertir
A noite é negra
E os holofotes vasculham
Toda essa escuridão
À procura de um lugar ideal
Pra dançar e barbarizar
Dance.....”

Detalhe da letra da canção “A noite”, que foi carro chefe de um disco, que abriria as portas da música pop brasileira para a Dance Music cantada em português.

O álbum apresenta as seguintes canções:

Disco Club 1 (Abertura) 0:28

Análise: Como o próprio nome diz, trata-se de uma vinheta de abertura do disco. Na época a ideia da vinheta era comum nos programas de rádio e, até em algumas danceterias, os djs faziam uma abertura especial com show de luzes na pista de dança e com pedaços de músicas (medley) conhecidas do público, para dar um incentivo para galera dançar. Ou seja, literalmente, a vinheta era o aviso pra chamar a galera dançar. Fernanda Abreu percebeu essa característica e trouxe para o disco um pouco da atmosfera que rolava nos clubes, até então pouco conhecidos da grande massa. No tempo atual ainda existe esse conceito de abertura das festas com superprodução, jogo de luzes, teatro e raio laser para criar uma boa expectativa entre o público festeiro.

1- A Noite 4:38

Análise: Fernanda Abreu é uma guerreira! Pouco dinheiro, muito glamour e a sensação de flashes e holofotes clicando a multidão, era o chamarisco perfeito pra galera “causar” e ser vista. A letra da música descreve de forma bem clara, o pensamento de muitas pessoas que procuravam diversão, companhia e um lugar para dançar e barbarizar. Na introdução da melodia temos um clima de suspense que era característico em algumas músicas dançantes naquele período. A linha de baixo sintetizado uniforme e o charme dos teclados fizeram toda a diferença na estrutura de uma das canções de maior sucesso da cantora. Infelizmente, o remix editado em single promocional não empolgou os fãs e clubbers em geral. Em 1994, o Dj Memê editou um ótimo megamix da cantora com o que poderíamos chamar de remix de respeito pra canção A noite. Esse megamix  deixou os fãs em estado de alerta, na espera pelo remix completo que ainda não foi lançado. Lamentável.
OBS: (não podemos mais colocar links de streaming no blog, porque algumas pessoas com problema de interpretação de texto confundem link de streaming (audição) com link de baixa de arquivo (download). Então para ouvir o megamix e entender sobre o – pedaço - de remix que estamos falando, sugerimos procurar a faixa no site do Youtube).

2- Sla Radical Dance Disco Club 2:54

Análise: Respeitamos a proposta de Fernanda Abreu, que estava envolvida com a cena roqueira e ao mesmo tempo, se divertia com a galera dance. Não é fácil para um artista administrar e sobreviver entre dois mundos com pessoas, jornalistas e músicos que disputavam as atenções do público para satisfazer ao seu interesse. A equipe do blog gosta de músicas longas porque nós pensamos na pista de dança e não apenas no rádio. O tempo dessa canção faz parte do conceito musical da velha guarda. Lá nos anos 50/60 onde a maioria das canções durava dois minutos e meio e eram perfeitas para tocarem dentro da proposta radiofônica. Enfim, na falta do que cantar, se preenche com a melodia. Na falta de melodia, se preenche com a letra da canção. Mas, fazendo vista grossa para esse detalhe, a equipe do Brasilremixes entende que a estrutura da música Sla radical dance disco club é bem interessante. Ela se divide entre a cadência dance tradicional (tum-tis-tum) que o povo clubber adora, e a combinação habilidosa do suingue Funky americano do cantor Prince, ao qual uma porcentagem artística do Brasil (especialmente no Rio de janeiro) curtia na época. Lembramos que essa pegada mais Funky era característica da cena carioca. Vários clubes pelo Brasil nem tocavam Prince e nem tocavam Funky. Aliás, nem dava tempo, com tantas outras canções internacionais mais dançantes e mais festivas. Ou seja, Prince é uma influência dessa fase da cantora e de certa forma representava o dance da galera roqueira que não admitia músicas dançantes que não tivessem riffs de guitarra.

3- Kamikases Do Amor 4:17

Análise: Temos aqui uma canção pop ótima para programas de rádio. Também foi editada em single promocional, apresentando remixes produzidos pelo Dj Irai Campos, que já foram postados pelo blog. Para rever, clique aqui!

4- Luxo Pesado  4:29

Análise: Tanto quanto nos anos anteriores, a década de 90 foi uma época onde os artistas expressavam e aproveitavam seu talento musical em várias áreas. Música pop, música romântica, dançante, etc...Porém, no cenário atual (pós 2000) a situação ficou um pouco mais restrita. A canção “Luxo pesado” é uma ótima releitura feita da versão original "Got To Be Real", de Cheryl Lynn.

5- Você Pra Mim 4:28

Análise: Outra música romântica da cantora que foi sucesso nas rádios das principais capitais brasileiras. Recomendamos.

6- Space Sound To Dance 3:04

Análise: Já comentamos que nosso objetivo é a pista de dança. Nessa canção não há o que tirar e nem colocar. Ela é 100% dance! Adoramos. O único detalhe é que a melodia ficou curta demais pra festa (pífios 3 minutos) e não foi lançado nenhum remix. Que desperdício!

7- Speed Racer  4:00

Análise: A melodia dessa música serviria muito bem numa trilha sonora de cinema.

8- Vênus Cat People 3:46

Análise: Os acordes de bateria eletrônica e o efeito de vocoder se encaixam de forma interessante nessa canção escrita por Fausto Fawcet. A interpretação vocal de Fernanda Abreu se manteve moderada e acabou deixando uma atmosfera de suspense no ar.

9- Disco Club 2 (Melô Do Radical) 2:18

Análise: Diríamos que essa faixa do álbum está mais voltada para um jingle/vinheta dando recado para o público sobre a proposta do disco.

10- Kung Fu fighting 3:52

Análise: Essa versão romântica que Fernanda Abreu fez para o sucesso internacional de  "Kung Fu Fighting", do cantor Carl Douglas, fecha o disco com chave de ouro. A proposta melódica de transformar músicas dançantes em canções românticas e vice-versa foi uma alternativa abraçada por vários artistas internacionais na primeira metade dos anos 90. Entre vários exemplos, podemos citar a canção “Nothing compares U 2”, escrita por Prince, cantada por Sinéad O´Connor e que ganhou uma versão dance de muito sucesso protagonizado pelo projeto Chip-notic. (Lá no Youtube tem.....)
Contracapa
CD

* O álbum Sla Radical Dance Disco Club foi lançado pela gravadora Emi-Odeon e editado em vinil, fita K7 e CD.

** Na sequência podemos ver as imagens do álbum editado em fita K7
Capa
Contracapa

*** Na imagem seguinte, podemos ver o detalhe do disco.
LADO A
LADO B

*** Poucos pessoas sabem, mas “S L A” são as iniciais do sobrenome de Fernanda. O nome completo da cantora é Fernanda Sampaio de Lacerda Abreu.

**** Não é fácil para Fernanda Abreu sobreviver no meio do fogo cruzado da mídia brasileira com seus interesses, suas afetações e ideologias musicais.

Edição comemorativa

Em 2020a revista NOIZE distribuiu/comercializou uma edição comemorativa do disco da cantora Fernanda Abreu, para celebrar 30 anos do seu lançamento. Como podemos ver nas imagem seguinte, a edição especial apresenta todas as canções originais em um disco vinil vermelho. 

Vinil edição colorida

Detalhe da capa da revista.