Capa
I Parte (Situando os
leitores)
Falar
do disco de estreia da cantora Fernanda Abreu é fácil. Complicado é fazer com
que as novas gerações juntem as peças do quebra-cabeça da cena musical brasileira, na época em que o álbum foi lançado.
Estávamos
no início da década de noventa. Parte do público que tinha dinheiro e interesse para usufruir um pouco da diversão musical disponibilizada pelos nightclubs e danceterias brasileiras, ou até mesmo aquelas pessoas que tinham contato com a moda musical mundial, se esbaldavam nos clubes ao som de:
Madonna
– Vogue
Technotronic
– This beat is tecnotronic e Pump up the jam
Mc
Hammer – U Can't Touch This
49-ears
– Touch me
Snap
– The power
Black
box – Everybody Everybody
Deee
Lite - Groove Is In The Heart
C+C
Music Factory - Gonna Make You Sweat (Everybody Dance Now), entre outras músicas
de vários cantores(as) americanos e europeus.
Mas cadê os artistas dançantes brasileiros?
Mas cadê os artistas dançantes brasileiros?
Pois é, não
somente a classe musical, como grande parte da população no país, nem sabia o
que era Dance Music, House, Techno e os mais diversos estilos musicais
eletronicamente formatados, que agitavam as pistas de dança de respeito, naquela época! Na prática, Dance Music
para a intelectualidade brasileira, era coisa de gente estranha que frequentava
lugares doidos e ambientes mal iluminados, que eram vistos muitas vezes, como politicamente
incorretos. Vale lembrar que nesse período, a Disco Music já era uma referência
do passado. Portanto, a nova ordem musical dançante se chamava “Dance Music”.
Uma
outra questão pertinente ao assunto, se refere ao fato da posição geográfica do Brasil
estar no meio do caminho. (???? como assim????) Basta olhar no mapa, para verificar que dadas as proporções, (Estados Unidos-Brasil-Europa), o Brasil se encontra no meio do caminho, fazendo uma espécie de "ponte musical" entre os continentes.
Portanto, com exceção de meia-dúzia de remixes perdidos entre alguns artistas brasileiros, o Brasil não produzia nada dançante para os clubes dentro do conceito eletrônico da mesma forma como já era amplamente trabalhado nos hits musicais internacionais.
Então, para suprir essa falta de música brasileira dançante, aproveitávamos (e continuamos aproveitando) todas as musicas dançantes e os sucessos disponibilizados pelos artistas gringos, tanto da escola melódica americana como da escola musical européia. Ou seja, cantando ou não cantando em português, a festa nos clubes acontecia normalmente. E graças ao trabalho de inúmeros djs, naquele momento já existia uma cena dançante forte nos clubes, nas danceterias, nas festas e em alguns programas de rádio pelo Brasil; os quais, eram agitados por canções internacionais produzidas e formatadas dentro de uma estética musical dançante, para proporcionar muita diversão.
Portanto, com exceção de meia-dúzia de remixes perdidos entre alguns artistas brasileiros, o Brasil não produzia nada dançante para os clubes dentro do conceito eletrônico da mesma forma como já era amplamente trabalhado nos hits musicais internacionais.
Então, para suprir essa falta de música brasileira dançante, aproveitávamos (e continuamos aproveitando) todas as musicas dançantes e os sucessos disponibilizados pelos artistas gringos, tanto da escola melódica americana como da escola musical européia. Ou seja, cantando ou não cantando em português, a festa nos clubes acontecia normalmente. E graças ao trabalho de inúmeros djs, naquele momento já existia uma cena dançante forte nos clubes, nas danceterias, nas festas e em alguns programas de rádio pelo Brasil; os quais, eram agitados por canções internacionais produzidas e formatadas dentro de uma estética musical dançante, para proporcionar muita diversão.
Fernanda Abreu (ao centro) época da banda Blitz /imagem reprodução
Herança conformista e
escravidão musical no meio artístico nos anos 80
Descartando regionalismos, folclore e desejos musicais ideológicos que satisfaziam
outro tipo de público; é importante observar que enquanto a cena jovem brasileira era doutrinada pela cartilha
musical do rock, o público adulto era dominado pela MPB. Entre os fatores que justificam esse entendimento, podemos citar a chantagem
mercadológica institucionalizada do “fazer música para vender dentro de uma proposta óbvia”. Isto é, ou os
artistas seguiam essa regra do jogo musical ou os artistas eram boicotados. Tanto pelos consumidores doutrinados, quanto pelas gravadoras que só queriam lucrar pelo pastelão musical enfadonho e repetitivo. E olha, que nem vamos citar toda a publicidade - direta e indireta - que era jogada na cara da população através de filmes, seriados, novelas, jornais e revistas de todo o tipo, que atuavam em favor do Rock e da MPB.
Nessa
análise, também existe a seguinte constatação:
De
um lado havia o público de conhecimento raso e tradicional, que se deixou
domesticar por um estilo musical único. E, do outro, como as gravadoras/mercado
perceberam as limitações do público brasileiro - então para sobreviver num mundo
capitalizado, se aproveitaram da situação e não aceitavam ou não investiam em
outros seguimentos musicais, para não ficarem no prejuízo. Portanto, se o
público doutrinado queria sangue, as gravadoras vendiam sangue. Se o público doutrinado queria
chuchu, as gravadoras vendiam chuchu, justificavam os defensores do mercado.
Esse entendimento, inclusive, é regra nos cursos universitários de
administração de empresas. Ou seja, a lucratividade é fundamental para manter
um produto no mercado. Se não der vantagem financeira, tchau, tchau baby!
Independente de ser bom ou ruim, pra
quem gostava de rock ou MPB era um excelente negócio. Afinal, quanto mais rock
e MPB, melhor seria para garantir a lucratividade, fidelizar (escravizar) o público
e satisfazer o ego de algumas pessoas, em detrimento de todos os outros estilos musicais. Aliás,
esse entendimento também é válido para todos os tipos de música.
A
equipe do blog lembra que moda é uma coisa bem diferente de doutrina, e um
exemplo clássico para ter um pouco de noção a respeito disso, é assistir ao
filme sobre a vida do cantor CAZUZA. Em uma das cenas do longa-metragem, o
cantor quebra o quadro com o disco de ouro, que recebeu pelas vendas do seu
álbum, dizendo: “...100 mil pessoas ouvindo a mesma coisa...”
Vale
registrar que a cena musical brasileira nos anos 80 era exuberante, mas desde
que fosse dentro da escola do rock ou da MPB. Até poderíamos escrever um livro
a respeito dessa situação, mas indo direto ao que interessa, agora vamos voltar aos anos 90 e falar sobre o disco de Fernanda Abreu.
Encarte 1
Encarte 2
Encarte 3
Encarte 4
Fernanda Abreu em 1990 / imagem reprodução
Parte II - Seja
bem-vindo anos 90!
Apesar
das limitações técnicas desse trabalho, a equipe do Brasilremixes é fã desse álbum, e sabe que se trata de um dos discos dos anos
noventa, mais esperados pelos leitores do blog.
Sla Radical Dance Disco Club possui uma atmosfera levemente underground e descolada dos padrões musicais doutrinários, que se perpetuavam no país. O álbum foi lançado em 1990 pela cantora Fernanda Abreu (Ex-banda Blitz), sendo produzido por Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso) e Fabio Fonseca, com direção de Jorge Davidson.
Sla Radical Dance Disco Club possui uma atmosfera levemente underground e descolada dos padrões musicais doutrinários, que se perpetuavam no país. O álbum foi lançado em 1990 pela cantora Fernanda Abreu (Ex-banda Blitz), sendo produzido por Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso) e Fabio Fonseca, com direção de Jorge Davidson.
“A tarde cai
A noite vem
atropelando
Todos os chatos
desanimados
Tá na hora de acordar
e sair
E ver que a vida é se
divertir
A noite é negra
E os holofotes
vasculham
Toda essa escuridão
À procura de um lugar
ideal
Pra dançar e
barbarizar
Dance.....”
Detalhe
da letra da canção “A noite”, que foi carro chefe de um disco, que abriria as
portas da música pop brasileira para a Dance Music cantada em português.
O
álbum apresenta as seguintes canções:
Disco Club 1
(Abertura) 0:28
Análise:
Como o próprio nome diz, trata-se de uma vinheta de abertura do disco. Na época
a ideia da vinheta era comum nos programas de rádio e, até em algumas
danceterias, os djs faziam uma abertura especial com show de luzes na pista de
dança e com pedaços de músicas (medley) conhecidas do público, para dar um
incentivo para galera dançar. Ou seja, literalmente, a vinheta era o aviso pra
chamar a galera dançar. Fernanda Abreu percebeu essa característica e trouxe
para o disco um pouco da atmosfera que rolava nos clubes, até então pouco
conhecidos da grande massa. No tempo atual ainda existe esse conceito de
abertura das festas com superprodução, jogo de luzes, teatro e raio laser para
criar uma boa expectativa entre o público festeiro.
1- A Noite 4:38
Análise: Fernanda Abreu é uma guerreira! Pouco dinheiro, muito glamour e a sensação de flashes e holofotes clicando a multidão, era o chamarisco perfeito pra galera “causar” e ser vista. A letra da música descreve de forma bem clara, o pensamento de muitas pessoas que procuravam diversão, companhia e um lugar para dançar e barbarizar. Na introdução da melodia temos um clima de suspense que era característico em algumas músicas dançantes naquele período. A linha de baixo sintetizado uniforme e o charme dos teclados fizeram toda a diferença na estrutura de uma das canções de maior sucesso da cantora. Infelizmente, o remix editado em single promocional não empolgou os fãs e clubbers em geral. Em 1994, o Dj Memê editou um ótimo megamix da cantora com o que poderíamos chamar de remix de respeito pra canção A noite. Esse megamix deixou os fãs em estado de alerta, na espera pelo remix completo que ainda não foi lançado. Lamentável.
OBS:
(não podemos mais colocar links de streaming no blog, porque algumas pessoas
com problema de interpretação de texto confundem link de streaming (audição) com
link de baixa de arquivo (download). Então para ouvir o megamix e entender
sobre o – pedaço - de remix que estamos falando, sugerimos procurar a faixa no site do
Youtube).
2- Sla Radical Dance
Disco Club 2:54
Análise: Respeitamos a proposta de Fernanda Abreu, que estava envolvida com a cena roqueira e ao mesmo tempo, se divertia com a galera dance. Não é fácil para um artista administrar e sobreviver entre dois mundos com pessoas, jornalistas e músicos que disputavam as atenções do público para satisfazer ao seu interesse. A equipe do blog gosta de músicas longas porque nós pensamos na pista de dança e não apenas no rádio. O tempo dessa canção faz parte do conceito musical da velha guarda. Lá nos anos 50/60 onde a maioria das canções durava dois minutos e meio e eram perfeitas para tocarem dentro da proposta radiofônica. Enfim, na falta do que cantar, se preenche com a melodia. Na falta de melodia, se preenche com a letra da canção. Mas, fazendo vista grossa para esse detalhe, a equipe do Brasilremixes entende que a estrutura da música Sla radical dance disco club é bem interessante. Ela se divide entre a cadência dance tradicional (tum-tis-tum) que o povo clubber adora, e a combinação habilidosa do suingue Funky americano do cantor Prince, ao qual uma porcentagem artística do Brasil (especialmente no Rio de janeiro) curtia na época. Lembramos que essa pegada mais Funky era característica da cena carioca. Vários clubes pelo Brasil nem tocavam Prince e nem tocavam Funky. Aliás, nem dava tempo, com tantas outras canções internacionais mais dançantes e mais festivas. Ou seja, Prince é uma influência dessa fase da cantora e de certa forma representava o dance da galera roqueira que não admitia músicas dançantes que não tivessem riffs de guitarra.
3- Kamikases Do Amor 4:17
Análise: Temos aqui uma canção pop ótima para programas de rádio. Também foi editada em single promocional, apresentando remixes produzidos pelo Dj Irai Campos, que já foram postados pelo blog. Para rever, clique aqui!
4- Luxo Pesado 4:29
Análise: Tanto quanto nos anos anteriores, a década de 90 foi uma época onde os artistas expressavam e aproveitavam seu talento musical em várias áreas. Música pop, música romântica, dançante, etc...Porém, no cenário atual (pós 2000) a situação ficou um pouco mais restrita. A canção “Luxo pesado” é uma ótima releitura feita da versão original "Got To Be Real", de Cheryl Lynn.
5- Você Pra Mim 4:28
Análise: Outra música romântica da cantora que foi sucesso nas rádios das principais capitais brasileiras. Recomendamos.
6- Space Sound To Dance 3:04
Análise: Já comentamos que nosso objetivo é a pista de dança. Nessa canção não há o que tirar e nem colocar. Ela é 100% dance! Adoramos. O único detalhe é que a melodia ficou curta demais pra festa (pífios 3 minutos) e não foi lançado nenhum remix. Que desperdício!
7- Speed Racer 4:00
Análise: A melodia dessa música serviria muito bem numa trilha sonora de cinema.
8- Vênus Cat People 3:46
Análise: Os acordes de bateria eletrônica e o efeito de vocoder se encaixam de forma interessante nessa canção escrita por Fausto Fawcet. A interpretação vocal de Fernanda Abreu se manteve moderada e acabou deixando uma atmosfera de suspense no ar.
9- Disco Club 2 (Melô Do
Radical) 2:18
Análise: Diríamos que essa faixa do álbum está mais voltada para um jingle/vinheta dando recado para o público sobre a proposta do disco.
10- Kung Fu fighting 3:52
Análise: Essa versão romântica que Fernanda Abreu fez para o sucesso internacional de "Kung Fu Fighting", do cantor Carl Douglas, fecha o disco com chave de ouro. A proposta melódica de transformar músicas dançantes em canções românticas e vice-versa foi uma alternativa abraçada por vários artistas internacionais na primeira metade dos anos 90. Entre vários exemplos, podemos citar a canção “Nothing compares U 2”, escrita por Prince, cantada por Sinéad O´Connor e que ganhou uma versão dance de muito sucesso protagonizado pelo projeto Chip-notic. (Lá no Youtube tem.....)
Contracapa
CD
*
O álbum Sla Radical Dance Disco Club foi lançado pela gravadora
Emi-Odeon e editado em vinil, fita K7 e CD.
** Na sequência podemos ver as imagens do álbum editado em fita K7
Capa
Contracapa
*** Na imagem seguinte, podemos ver o detalhe do disco.
LADO A
LADO B
*** Poucos pessoas sabem, mas “S L A” são as iniciais do sobrenome de Fernanda. O
nome completo da cantora é Fernanda Sampaio de Lacerda Abreu.
Edição comemorativa
Em 2020, a revista NOIZE distribuiu/comercializou uma edição comemorativa do disco da cantora Fernanda Abreu, para celebrar 30 anos do seu lançamento. Como podemos ver nas imagem seguinte, a edição especial apresenta todas as canções originais em um disco vinil vermelho.
Detalhe da capa da revista.