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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Ive Mendes (IVE) - Hanime (single promocional)

Capa 

A cantora Ive Mendes, que também é carinhosamente chamada de “Ive”,  poderia fazer parte da lista de talentos brasileiros que o Brasil desconhece.  Estávamos em 1998 e a gravadora BMG distribuiu promocionalmente o single da canção “Hanime”. A música foi incluída na trilha sonora da novela Corpo Dourado que era transmitida pela rede Globo de TV.
Contracapa

A falta de desenvolvimento e independência musical do público brasileiro, de certa forma contribuiu para que a cantora Ive Mendes fosse ignorada pelo show business tupiniquim. Entretanto, o talento da artista foi bem reconhecido e valorizado no mercado externo e a cantora faz mais sucesso em outros países do que em sua própria terra natal.  Ive Mendes nasceu em Goiânia e canta em português e em inglês. Seu último álbum de estúdio, chamado “Magnetism” – lançado em 2010, recebeu disco de ouro e disco de platina duplo no mercado internacional.  Atualmente, a equipe de músicos responsáveis pela produção musical da cantora é de primeira linha. Há profissionais que já atuaram com grandes artistas como Sade, Simply Red, Massive Attack, Tina Turner, Seal, Shakira, M People, Eurythmics, George Benson entre outros.
Ive Mendes / imagem reprodução

O single de hoje apresenta a canção “Hanime” na versão original e quatro remixes produzidos por Rodrigo Ferraz e Hitmakers. O conceito melódico apresentado nos remixes possui o sample de bateria da música “Sadeness” do Enigma e uma vibração suave com influências do “Downtempo”, que é ideal para relaxar em ambientes destinados ao Lounge e Chill out.

Este single possui as seguintes faixas:

2 - Hanime – versão Extended remix 6´15
3 - Hanime – versão Radio Edit 3´35
4 - Hanime – versão Age  mix 4´43
5 - Hanime – versão Cool mix 4´40

CD 

* Não há informação que este single tenha sido lançado em vinil 12”

**Quem quiser saber mais informações sobre a cantora, basta clicar em sua página pessoal no link: http://www.ivemendes.com

O desastre musical brasileiro e a ostentação daquilo que não merece  ser glorificado ....

Para quem não sabe nada e está satisfeito com migalhas, não há diferença nenhuma. Afinal, nunca pensou além do próprio umbigo e se lambuza em meio a mediocridade e a repetição musical de fórmulas mofadas. Para esse tipo de pessoa, falar em “Desastre musical brasileiro” pode parecer tão surpreendente quanto ouvir a medicina afirmar que a maconha possui efeitos benéficos para o tratamento de determinadas doenças.

No final da década de noventa (época de lançamento do single da postagem de hoje), estávamos num período em que as rádios populares sintonizadas no dial de AM faziam o seu trabalho muito bem e as emissoras de rádio FM atendiam outro tipo de público, com uma programação mais sofisticada e vibrante - com tudo o que havia de melhor na musicalidade brasileira e mundial.

Porém, não satisfeitos com o sucesso obtido nas emissoras de rádio AM, aos poucos, muitos diretores e radialistas do seguimento popular se transformaram em locutores de emissoras de FM. Por outro lado, os profissionais que já atuavam em FM, ignoraram o desenvolvimento musical adquirido por parte da população e baixaram o nível dos estilos musicais, para roubar e competir com a audiência alcançada pelas rádios AM. 

- Sabe aquela história  imbecil que diz: 
 "A grama do vizinho é mais reluzente que a sua"? 
- Pois é. Essa parte da história possui um significado parecido com esse texto. Ou seja, a rádio dos outros é melhor que a sua!!!  

O resultado dessa situação foi um desastre musical para parte do público desenvolvido, que perdeu referências e acabou sozinho em meio ao caldeirão de popularidade momentânea. As classes sociais mais pobres não ficaram ricas, elas apenas transferiram seu gosto popular para outras frequências. Só isso! Até porque, riqueza ou pobreza não são sinônimos de desenvolvimento musical. 

A desigualdade e a confusão cultural das pessoas se tornou fato consumado. O sucesso gradual foi substituído pelo sucesso imediato e passageiro. Artistas foram lançados com prazo de validade vencido. Independente de critérios musicais, conseguir o maior número de pessoas voltadas para um determinado estilo, se tornou regra da vez. O que antes era percebido de forma sutil, em pouco tempo, passou a ser visto de forma explícita. A geração de consumidores musicais tinha mudado. Pessoas que já estavam avançadas tiveram que tolerar e esperar as pessoas que ainda estavam em processo de amadurecimento musical. Não havia mais unidade e o bom gosto foi chutado pro escanteio.

O feeling musical envelheceu e não era importante para os reguladores da cultura, que estavam de olho na lucratividade fácil. A confusão estava no ar. O que era para ser uma grande canção – não dava em nada. E o que era para ser uma canção de nada – fazia um enorme sucesso! Era música popular tocando com música conceitual e sofisticada e vice-versa. Artistas de quinto escalão foram equiparados no mesmo nível dos artistas de alto conceito. Era todo mundo moderno e todo mundo jeca ao mesmo tempo. Havia canções jovens e festivas misturadas com melodias confusas, libidinosas e descartáveis. Também havia musicas de protesto com melodias de clamor religioso e ostentação. O joio acabou se misturado com o trigo e cada vez mais as pessoas tinham que acionar o filtro musical, para não caírem na vala comum da piedade. Artistas e cantores de talento duvidoso começaram a gritar e justificar seu trabalho com expressões do tipo: 

-  “Eu tive uma vida difícil então me dá uma chance para cantar e fazer sucesso!”

Todo o brasileiro, praticamente, teve ou tem uma vida difícil, mas não significa que essa situação seja uma justificativa para se tornar um artista e ser glorificado! Não houve simplesmente a ascensão da música popular. A popularização foi crescendo e era sustentada pela mediocridade de muitos artistas de conhecimento e interesse musical limitado, que conquistaram para si o gosto popular – que também já era limitado e sem o mínimo interesse de se desenvolver. Esse sistema acabou ditando parte das regras da música pop brasileira entre outros fatores. Afinal, no Brasil – independente de graduação universitária – a maior parte da população não possui um desenvolvimento musical “nato”, pois a música ainda é vista em segundo, terceiro, quarto plano...etc.

Enquanto que a musicalidade internacional continuava trilhando o seu caminho com diversidade, sucesso e aprimoramento melódico; a música pop brasileira apelava para interesses populares confusos de pessoas que mantinham um estilo de vida simplório com bases no conceito: “Nascer, crescer, reproduzir e morrer. Tudo recheado com muitas doses de saudade do interior, saudade do passado, de ostentação e de apelo sexual.

"Ostentação daquilo que não merece louvor"

Dizem os sociólogos, que em grande parte do Brasil, muitas pessoas tentam ostentar algo que não merece “louvor” para ser ostentado. Em resumo, uma parte da sociedade vive em meio a confusão educacional de interpretações e sentidos. É como parte do povo da região sul do país, que possui alguns tradicionalistas que lutaram no século XVIII contra a corte portuguesa e perderam a guerra. Mesmo assim, os discípulos dos tradicionalistas sustentam que são intocáveis e fingem que não perderam a disputa. Essa atitude serve para mascarar sua incapacidade em admitir a derrota e ao mesmo tempo enaltece o ego pessoal dos tradicionalistas, que ficam ostentando e incutindo no povo uma glorificação que não existe!

O Brasil tem vivido um momento musical assustador e inconsequente. Muitas pessoas ostentam sua pobreza para justificar e camuflar a falta de dignidade. ("Eu sou pobre e está tudo bem") Ao agirem com esse pensamento – sem o amparo financeiro e sem interesse em desenvolvimento – se tornam convenientes com a situação e acabam sustentando um orgulho musical simplório e equivocado. Por fim, sem a certeza do que representam e para onde devem chegar, cultivam uma vaidade bairrista repleta de limitações e obviedades. É como se todo o desenvolvimento musical das pessoas se resumisse num conhecimento raso e no orgulho de fazer música com uma caixinha de fósforo.

A equipe do blog aproveitou a postagem de hoje para tocar nesse assunto, porque as coisas acontecem no Brasil e ninguém fala nada. Não se envolve com nada, não tem opinião pra nada e nunca sabe de nada. Parece que o público é catequizado para camuflar uma realidade de que tudo é normal. Porém, a situação descrita no texto não é normal para qualquer povo que deseja ser alguma coisa no mundo.