Capa
Pra começar a polêmica, vamos com um pouco de história.....
Segundo pesquisadores, o Funk é um gênero musical que se originou em comunidades afro-americanas na década de 60. Ou seja, artistas afro-americanos criaram uma nova forma de música rítmica e dançante através da mistura de soul, jazz e rhythm and blues. O Funk retira a ênfase da melodia e da harmonia e traz um groove rítmico forte de baixo elétrico e bateria no fundo. Portanto, o autêntico Funk é um estilo musical americano de sucesso entre a galera afro-americana (rica ou pobre) lá nos Estados Unidos, na década de 60/70/80. Ponto.
Enquanto isso, aqui no lado sul da América, a equipe do Brasilemixes juntou o quebra-cabeça de influências e influenciados no Brasil, para explicar o que aconteceu.....
Naquele
tempo, parte da galera afro-brasileira (pobre e deslumbrada), sem perceber ou
questionar, se tornou alvo fácil das informações de realidade social distorcida
ou super projetadas (ao bel prazer) pela mídia/publicidade brasileira ao longo
dos anos, a respeito de tudo o que acontecia nos EUA.
Logo...
Não apenas o pessoal afro-brasileiro como também quase toda sociedade tupiniquim, educacionalmente frágil e induzida pelo gosto musical e o interesse de alguns brasileiros deslumbrados, que atuavam na linha de frente da mídia com um discurso pró Estados Unidos, acabaram sendo altamente influenciados pelo estilo americano de “ser e viver”.
Afinal...
Os americanos eram vendidos como algo maravilhoso para ser copiado/imitado e reproduzido em sua íntegra. Dessa forma, grande parte da sociedade carioca ingênua, embarcou nessa ideia deslumbrada de vida americana, e era quase natural que pessoas com baixa instrução e noção da realidade, (Incluindo Djs e músicos) adotassem/seguissem/incorporassem de acordo com sua interpretação particular de mundo, o estilo musical do Funk americano com ares de endeusamento.
Imagem ilustrativa/ reproduçãoPausa para se recuperar do puxão de orelha, ao qual a sociedade se meteu....
Ao mesmo tempo, se faz necessário registrar o fato de que a comunidade afro-brasileira, diluída e separada criminosamente de suas crenças, de seus costumes e de seus ancestrais, pela escravidão; também estava à procura desesperada por representatividade ou ritmos musicais que tivessem ligados e fossem simpáticos com seu interesse de mundo particular. “Sou preto, quero música de preto”. “Sou branco, quero música de branco”. Sou rico, quero música de rico”. “Sou pobre, quero música de pobre” e bla-blá-blá. No Brasil essa representatividade foi alcançada pela criação e desenvolvimento de ritmos como o Samba e o Pagode, por exemplo. Nos Estados Unidos, entre vários estilos podemos citar o Soul, o Rhythm and blues, o Funk, o Jazz, o RAP, Hip Hop....
É necessário lembrar que, ao incorporar o Funk americano na cultura tupiniquim
paulista e carioca (sim, foi apenas nesses dois estados do Brasil inteiro, que
o Funk americano chamou a atenção do público e se propagou), a galera afro-brasileira já tinha uma ótima
representatividade musical através do Samba e do Pagode. Porémmmmmmmmm, dadas às
proporções, tanto o Samba quanto o Pagode NÃO tinham o GLAMOUR musical e social
no Brasil com que parte da galera afrodescendente deslumbrada e marginalizada
de forma injusta, pudesse se orgulhar/ostentar. Claro! As pessoas eram
doutrinadas com a ideia de que tudo o que fosse de fora do Brasil era
melhor....
Ou
seja, mesmo que o Samba e o Pagode possuíssem uma riqueza sonora fantástica, ambos
os estilos eram por vezes menosprezados e condicionados como referências
musicais da galera pobrezinha, coitadinha, regionalista, periférica e
trabalhadora. Logo, psicologicamente falando, muitas pessoas não gostam de ser
tratadas como pobres, coitadas, regionais, periféricas e trabalhadoras.
Percebendo
ou não, o Brasil sempre foi confuso em definir sua cultura e seus
direcionamentos. As pessoas (sem educação esclarecedora de
passado-presente-futuro, quem eu sou, o que devo fazer e onde tenho que chegar)
misturaram solenemente, alhos com bugalhos. O resultado de toda essa confusão se
impregnou na classe social e financeira e acabou se metendo no gosto musical particular
das pessoas. Um verdadeiro INFERNO!!!!!
Tem
público que gosta de algumas musicas por causa da moda. Outras pessoas gostam
pela representatividade. Outras pelo glamour social, pela melodia, pela
ostentação, pela fama do artista, pela composição, pela vantagem, pela
publicidade, pela vibração, para se sentirem modernas, atualizadas, queridas enfim....uma
confusão dos diabos. São poucas as pessoas que gostam de música por si só. A
maior parte dos consumidores segue seus interesses e influências particulares.
Lamentável.
Funk Carioca (...um
dia qualquer)
Em
um cenário socialmente/educacionalmente confuso, o Funk foi sendo incorporado junto
a cultura popular dos guetos no Rio de Janeiro. Em determinado momento foi
apelidado de “Funk carioca” e se estabeleceu por ser um estilo influenciado
pelo Funk americano. Tipo assim:
-
O funk americano é legal? Sim! Então vamos aproveitar essa ideia musical
americana e vamos fazer um estilo musical igual, aqui no Brasil.
-
Como vamos chamar?
Ahhhh
diga que é Funk, tipo Funk americano. Ninguém vai entender nada o mesmo. Diga
que é Funk.
- Mas esse Funk não é bemmmmmmmm igual ao Funk Americano?
-
Eu sei, nós somos pobres, não temos instrumentos musicais como os americanos,
mas vamos fazer com aquilo que temos e vamos chamar de Funk!
- Certo! Funk ou Miami bass?
- Ahhhhh diga que é Funk! É tudo Funk! Pronto! Quem não tá satisfeito que dê aula de música de graça e instrumentos musicais de graça pra nós. Como isso não vai acontecer, vamos dizer que é tudo Funk.
O remix
CapaAproveitando um sabor musical diferente daquele que havia no mercado e observando o comportamento da periferia, guetos, comunidades (favelas) cariocas e afins, entra em cena o cantor Lulu Santos.
Naquele
momento, o Funk carioca já agitava a periferia do Rio de Janeiro e o cantor
Lulu Santos (ligado com o que se passava ao eu redor), achou oportuno remixar
uma canção utilizando referências melódicas do tal “Funk carioca”. E dessa
forma, surgiu o remix para a música Toda forma de amor, com produção do
Dj Memê.
Contracapa
O single lançado em 1995 pela gravadora BMG, apresenta duas versões (editada e normal) que receberam o nome de Funk you mix. A canção possui a participação especial de MC William e Duda Mc cantando “Rap do Lu”. O detalhe do nome do remix é um trocadilho de palavras Funk (ritmo musical) e fuck you (expressão inglesa que possui várias interpretações de cunho ofensivo). O seja, “fuck you” pode significar “dane-se” ou foda-se” e possui conotação com a letra da música, apenas.
CDConfusão social e jogo de cena
Por falta de dados concretos, uma PARTE da mídia e da sociedade entre São Paulo e Rio De Janeiro (que não consegue enxergar além do próprio umbigo) imagina, acredita e propaga que o Funk carioca seja um sucesso nacional. Isso NÃO é verdade!
O funk carioca faz sucesso no Rio, em Sampa e em algumas capitais do Brasil, apenas. Fora esses lugares determinados ou guetos, mesmo que o funk esteja fazendo sucesso e mesmo que as musicas sejam distribuídas de graça, o funk NÃO toca em todas as rádios brasileiras, o funk NÃO agita todos os clubes brasileiros, o estilo de vida dos cantores de funk NÃO caiu no gosto do público e o funk NÃO é um produto de consumo nacional. Essa constatação, também se projeta com a música sertaneja, a música regionalista, o axé, entre outros.
Falsa ideia de sucesso...
O pensamento confuso e sensacionalista de que “se for sucesso em São Paulo ou Rio de Janeiro é sucesso em todo o Brasil” é uma falácia publicitária. É falso. É um absurdo comunicativo vagabundo, conveniente e simplório, que foi proferido por pessoas que atuavam na mídia através dos anos, sem que alguém desse “um peitaço” e colocasse a ordem dos fatos no seu devido lugar. Então, a verdade conveniente misturada com a falta de percepção da realidade, as pessoas se acostumaram com a crença simplória de que se for sucesso no Rio ou em Sampa, é sucesso em todo o Brasil.
A narrativa de “sucesso em todo o Brasil” é prejudicial aos músicos, pois cria uma fantasia imaginária, que não se reflete nas vendas e acaba superficializando a carreira do artista. Isto é, o artista ostenta um sucesso ilusório que é apenas parcial ou localizado. O qual não existe, nunca existiu e nunca venha existir em sua totalidade.
* A versão remix deste single foi incluída na coletânea de remixes do Cantor Lulu Santos, lançada em 1995, e já foi postada pelo blog. Para rever, clique aqui.
** Ainda é possível comprar o single remix em lojas que vendem artigos musicais pela internet.
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