Antes
de falar no projeto musical do grupo Que fim levou Robin?, precisamos entender o contexto melódico ao qual ele pertencia. É necessário conhecer a
estética musical de outros artistas semelhantes como os americanos do Deee-lite
com as músicas “Groove is in the heart” e
“Power of love”, os ingleses do projeto S´Express com as canções “Theme from express” e “Superfly guy”,
as brasileiras do grupo Frenéticas e os sucessos “Perigosa” e “Dancin days”, os
dinamarqueses do Aqua e os hits “Barbie Girl” e “Doctor Jones”, o grupo belga chamado Plaza
que agitou a galera cantando “Yo-Yo” e “Hey-hey-hey”,
entre outros exemplos musicais que também divertiram o povo nos clubes. Portanto,
o QFLR? não estava sozinho e não fazia parte de um delírio urbano isolado. Seguindo a
mesma linha de pensamento, é importante observar o movimento da Disco music e
suas divas, o conceito de Dance music, e, o desenrolar da vida noturna nos clubes
pop/alternativos mais descolados no mundo na década de 90. Pronto!
Encarte
Agora sim, colocando as cartas na mesa, as pessoas poderão compreender a proposta e a estética musical do grupo brasileiro QFLR?; independente de
crença, cor, opção sexual, idade, classe social e todos aqueles conceitos e
preconceitos, que a sociedade adora ficar se comparando e se menosprezando. Portanto,
não adianta falar do grupo QFLR? fora de uma explicação sobre o meio artístico/social, ao qual ele nasceu.
O projeto Que fim levou Robin? é reconhecido como o primeiro grupo comercial
brasileiro, 100% voltado para a Dance Music e música eletrônica. Existe aquelas
pessoas que trabalham o dia inteiro, ouvem todo tipo de lamentação e safadezas
sociais, a corrupção política e as demais bobagens que se passam na sociedade?
Pois é, nesse momento muitas pessoas dizem: Agora chega!!! Eu quero sair,
beber, dançar e me divertir por algumas horas, sem ter a preocupação de ouvir
canções voltadas para problemas sociais ou discurso de palanque! Então, nessa hora entrava em cena a diversão e a proposta musical do grupo Que fim
levou Robin?
História
Em
1991 a gravadora WEA/Warner surpreendeu muita gente ao lançar no
mercado brasileiro, um disco simples com o título Aqui
não tem Chanel, de um grupo desconhecido da cena musical brasileira. Aliás, a proposta do
QFLR? além de não seguir os padrões musicais tupiniquins
(baixo-guitarra-bateria-percussão), ao mesmo tempo abraçava todos os tipos de
público, que se esbaldavam nas festas e pouco se importavam na pista de dança, se os garotos
não eram mais garotos ou se as garotas não eram o que deveriam ser.....
QFLR? em 1991. Imagem reprodução
Formado
pelo Dj Mauro Borges, com a participação do Dj Renato Lopes e as backing vocals
Bebete Indarte e Claudia, o QFLR? utilizava os apetrechos tecnológicos
disponíveis no país, de acordo com a habilidade e conhecimento de seus
integrantes e apoiadores. Em sua estreia, o grupo apresentou um álbum com
letras provocativas, bem-humoradas e de duplo sentido. Ou, como a jornalista
Erika Palomino escreveu no livro Babado Forte, lançado em
1999, pela editora Mandarim...
“...o
grupo estava inspirado na estética do Deee-lite, no vídeo da música Deep in
Vogue (de Malcolm Mclarem), na estilista Coco Chanel, na Madonna e no conceito
“faça-você-mesmo” da cultura clubber....”,
Parte da cultura "clubber" tinha uma atitude musical, independente daquilo que a sociedade conservadora e doutrinada pensava ou deixava de pensar.
Dj Mauro Borges
As
canções "Que fim levou Robin?" e "Aqui não tem Chanel" foram aceitas
pelo público e o grupo conquistou fama nos clubes e nas principais
emissoras de rádio pelo Brasil. O disco, que teve a produção de Dudu Marotte, também
registrava uma ótima releitura da canção "Dancing Days" das Frenéticas, que foi
gravada por elas originalmente em 1978, no auge das discotecas.
Dj Renato Lopes
Muitos
fãs, Djs, colecionadores e parte da crítica musical atualizada, consideram o
disco importante para Dance Music brasileira. Aliás, é um trabalho musical que
todo o Dj brasuca deveria ter e conhecer. A equipe do blog lembra que na época
de lançamento, o disco Aqui não tem Chanel do grupo
QFLR?, preenchia um espaço vazio no meio de migalhas e remixes nacionais
produzidos até então por meia dúzia de DJs brasileiros, apenas.
O
disco possui as seguintes faixas:
LADO A
1- Aqui não tem Chanel 4´07
2- Tia
3´27
3- Que fim levou Robin? 3´59
4- O rei e a rainha do shopping 3´30
LADO B
2- Sei lá não sei o que 3´32
3- Objeto de uso pessoal 4´08
4- A última caçada 4´35
* Além
de ter sido lançado em vinil e em CD, na imagem seguinte podemos ver que o disco
também foi editado em fita K-7.
** A
versão em CD possui uma faixa bônus com o remix da canção Aqui
não tem Chanel (The sapucai mix).
Capa
Contracapa
*** Em
2014 foram lançados onze remixes da canção Aqui não tem Chanel. Para
rever a resenha já postada pelo blog, clique aqui!
****
Ao clicar no link em destaque, (Programa batendo o prato / Mauro Borges) o internauta poderá ouvir e assistir a uma
entrevista com o Dj Mauro Borges que conta detalhes de sua carreira e o
trabalho do grupo.
Quem nunca brincou de
hedonismo?
“Abra
as suas asas,
Solte
suas feras,
Caia
na gandaia,
Entre
nessa festa....
Me
leve com você,
Pro
seus sonhos mais loucos..........”
As
palavras em destaque fazem parte da canção “Dancing Days” do grupo Frenéticas, que se tornou
hino nos clubes e nas festas pelo Brasil. A composição exemplifica muito bem o
que poderíamos chamar de momento “hedonista” do ser humano na pista de dança.
Segundo psicólogos, a letra da música reflete (consciente ou inconsciente) uma
atitude de celebrar o prazer supremo, o devaneio, a curtição ou até mesmo algo
superficial e “politicamente incorreto”, como estilo de vida.
Da
mesma forma que existem canções voltadas para o discurso de palanque, o
protesto político, as mazelas sociais, a futilidade, o saudosimo entre
outros; também pode ser observado a combinação de frases com influência
“hedonista” em diversas composições musicais nacionais e internacionais. Na mídia tupiniquim
(Rádio / jornal / revistas e TV)* a pessoa (profissional ou não) que falava
sobre música, geralmente não possuía um olhar holístico sobre a musicalidade e
suas variações como um todo. Quem perdia com isso era o público que formava uma opinião crítica limitada.
Geralmente,
quem falava de rock, somente escrevia sobre grupos de música roqueira. Quem falava
de sertanejo, só opinava sobre os artistas da linha musical sertaneja. Quem
falava sobre Dance Music só sabia dizer se era bom ou ruim e assim
sucessivamente. Refletir sobre conceitos musicais envolvendo vários estilos,
era muito trabalhoso e até parte do público consumidor não conseguia
compreender o óbvio. Imagine então entender aquilo que os seres humanos faziam
e cantavam no seu dia a dia?
É
claro que, passados 25 anos, muita gente vai torcer o nariz e dar gargalhadas
ao assistir alguns vídeos espalhados na internet com apresentações do grupo QFLR? ao
vivo. Alguns, inclusive, posteriormente
viraram motivo de piada. Mas, tudo faz parte de uma estética dançante que
existia lá no final do século passado. O grupo nunca foi uma superbanda
musical produzida por mega produtores especializados. Era tudo feito de acordo
com o dinheiro, o conhecimento e a tecnologia brasileira disponível, na época.
Por
isso, que entre cobras e lagartos na cena musical mundial, a equipe do blog resgatou aspectos musicais hedonistas, que são inconscientemente praticados na composição de várias canções e estilos, desde "Start me up" dos Rolling Stones, passando por "Twist
and shout" dos Beatles e chegando
até o "Camaro amarelo" da dupla Munhoz e Mariano. De forma provocativa, para algumas
pessoas a composição do QFLR? pode ser considerada fraca, mas todo mundo no meio musical tem culpa
no cartório! Debaixo dos caracóis dos seus cabelos pode ser muito bom para
caetanos da vida, mas, quem sabe, se não é dos carecas que elas gostam mais?
* (Não havia internet
naquela época!)
** Agradecimento especial ao Dj Benno que colaborou com algumas imagens para ilustrar a postagem de hoje.
*** Se alguém ainda não entendeu o conceito de música + estilo + moda + atitude + dança do grupo Que fim levou Robin?, a equipe do blog escolheu o vídeo internacional do projeto Off-Shore com a música I can´t take the power (lá no Youtube tem) que mostra "explicitamente" qual era a vibe dançante da galera descolada, que frequentava os clubes entre 1988 e 1991. Alguém poderá dizer: - Ahh mas é apenas uma dancinha!? - Mas ninguém disse que era diferente! Quem procura música de discurso ou música de palanque tem que voltar pra ditadura na década de 60!
**** Essa resenha foi postada bem no dia de comemoração da independência do Brasil em 2016.